Caetano X Lobão: uma discussão à antiga.
Extra! Extra! Caetano Veloso vai falar (e quando ele fala, acreditem, vem chumbo grosso por aí). A última do poeta marginal foi durante a apresentação do show Obra em Progresso, no Vivo Rio, um espetáculo que vem “se construindo de forma polêmica e aos poucos”, de acordo com os pensamentos e idéias do notório baiano. A vítima da vez de sua metralhadora verbal foi o roqueiro e agitador cultural Lobão, que volta e meia dispara suas flechas nada suaves em seus convidados no programa MTV Debate (um encontro que tem dado muito pano pra manga por conta das constantes discussões que vem acontecendo entre membros dos mais diversos setores da sociedade). Lobão, paulista engajado nos últimos anos de vida, deflagrou seus impropérios abertamente em edição recente do Jornal do Brasil onde acatava a cidade maravilhosa pelo acúmulo de violência sofrida nos últimos anos. Moral da história: forneceu munição ao sempre irreverente compositor que, insatisfeitíssimo com as declarações nada amistosas do roqueiro, decidiu se autoproclamar um direito de resposta muito divertido, alegrando a platéia num breve intervalo do show.
Primeiramente: quem é Lobão, morador de uma das cidades mais violentas da América Latina, quiçá do mundo, para ofender e agredir a cidade do Rio de Janeiro de tal maneira? Será que ele nunca se tocou da barbárie e das constantes altercações sangrentas que acontecem no solo paulistano repetidamente? Será ele o único cidadão brasileiro que não crê na situação caótica que vem assombrando a sociedade brasileira nas últimas décadas? Estará ele louco ou mal informado? Ainda por cima fornece material vasto para que um dos maiores debatedores de nosso país o ataque de forma contundente e sem piedade. Que vexame, Lobão!
Por que escrevo nesse blog esse pueril texto, meus caros leitores? Pois me veio à mente o nostálgico tempo da geração Paissandu, dos filmes seguidos de debates entusiásticos com mentes brilhantes que fizeram a história desse país (uma história, definitivamente, muito mais bonita e dignificante do que a dos dias atuais). Escrevo esse post para mostrar a minha indignação diante de uma sociedade que, ao invés de usar sua cultura para criar novas histórias, novos discursos, gerando com isso, novos talentos, prefere perder seu tempo em discussões alucinadas que não têm nenhum outro fundamento senão o puro marketing de seus agressores (pois, acreditem, sempre vi ambos, tanto Caetano quanto Lobão, como marqueteiros de plantão, que aguardam o momento adequado para destilarem seus venenos).
Lástima? Sou contra debates? Longe disso! Quando bem estruturados, são ricos em informações e podem render grandes espetáculos – como aliás, aconteceu com muitas apresentações teatrais na época da ditadura brasileira – e projetos sociais. No entanto, quando se trata de bate-boca cujo único intuito é vender a imagem de determinada pessoa e o que ela pensa sobre determinados aspectos sociais, prefiro eximir-me da presença (seja in loco ou espectadora televisiva) e, por vezes, da opinião, tendo em vista serem as discussões sempre as mesmas, repetitivas, desgastantes, não acrescentando em nada a sociedade em geral.
P.S: artigo pedido por vários leitores desse blog (nem sempre deixando seus comentários, por quererem manter suas identidades/codinomes incólumes) que estiveram presentes no show, acompanharam de perto a leitura da matéria jornalística feita pelo ex-tropicalista e riram muito com as tiradas sarcásticas muito bem construídas pelo cantor e debatedor cultural;
Foto: http://leafandlime.hobix.com/pic/caetano_veloso.jpg