O que é música hoje e como os artistas farão para ganhar dinheiro daqui pra frente.

 

Pensando a questão dos direitos autorais e a indústria fonográfica brasileira: o que é (não é) música nesse país?

 

            Desde que decidi montar esse blog, um amigo meu fanático por música – mas digo fanático mesmo, no sentido de que quando gosta de uma banda e/ou cantor específico vai a quase toda a turnê, compra todos os álbuns, camisas e copos e revistas e sabe lá Deus mais o quê que tenha estampado o nome daquele (ou daqueles) indivíduos que sobem ao palco para lotar estádios e casas de show – exige que eu fale a respeito da questão dos direitos autorais e da atual situação da indústria fonográfica. Grande amigo que sou (e nessas horas não custa nada dar uma força para os parceiros que me conhecem desde pequeno) e também um admirador da boa música decido escrever sobre o assunto e me recordo de duas matérias recentes publicadas em dois dos jornais mais vendidos na cidade.

 

            A primeira matéria chama-se “Que país é este que quer ouvir uma fita cassete?” e fala sobre a recuperação de uma gravação precária feita pelo vocalista da banda Legião Urbana, o sempre saudoso Renato Russo, que apesar de importante por seu inestimável caráter antropológico, traz também severas críticas em seu bojo por conta da má qualidade sonora das canções e, destaque louvável, a falta de material inédito do compositor entre as canções. Os críticos musicais convidados para comentar a matéria, dividem-se entre opiniões como “músicas mofadas de apartamento” (comentário de Bráulio Lorentz), “arruinaram a memória de suas canções” (Nelson Gobbi) e “o poeta permanece em meio à mediocridade” (Ricardo Schott). Em fim, uma triste tentativa mercadológica de tocar os corações nostálgicos de uma legião de fãs, órfãs do sábio trovador solitário e que desde seu falecimento não encontraram outro ídolo que o substituísse.

 

            Já no segundo artigo, chamado “Saída pelo palco”, é feita uma grande reflexão ao futuro do meio artístico em tempos de downloads de faixas pela internet aliada à agressiva pirataria que a cada dia alcança mais a mais adeptos, levando os cantores e compositores a verem nos shows ao vivo e na gravação de DVDs a salvação de suas carreiras. E não pensem, caros leitores, que grandes nomes da MPB, consagrados por trabalhos impecáveis ao longo de suas carreiras, estão livres das vacas magras, não. Eles estão lá também (Lulu Santos, Ivete Sangallo, Zeca Pagodinho, Dudu Nobre e muitos outros bambas) disputando o pão-nosso de cada dia com a maior modéstia possível.

 

            Resumo da ópera (se é que um caso desses pode ser resumido): como pensar de maneira séria em direitos autorais num cenário desses? Pior: levantou-se há pouco tempo – pelo ECAD, o órgão que contempla essa discussão musicófola – a questão de se cobrar direitos até de pessoas que possuam uma juxebox no seu estabelecimento comercial. Onde já se viu isso! Aí já é demais. Definitivamente, casos como o do CD Trovador Solitário (a tal fita cassete da matéria acima), reforçam ainda mais a minha já suspeita posição sobre a indústria fonográfica: os grandes astros nos deixaram e agora querem nos cobrar preços abusivos, muitas vezes, por quem não tem o menor cacoete de talento. Uma afronta! Critica-se a pirataria (e realmente ela é um mal avassalador, pois fico imaginando o quanto deve ser difícil manter-se no mercado tendo uma sombra nebulosa dessas pairando constantemente sobre os ombros), mas o que se faz de concreto pela revitalização da MPB e, olhando de forma mais abrangente, pela música mundial?

 

            Paro minha escrita por algumas horas, sento para assistir a um programa do Jô que gravei há alguns meses e nunca havia assistido até então – e que curiosamente traz como convidado o diretor da gravadora Trama, João Marcelo Bôscoli – e, ao final da entrevista, lembro (lembrar é maneira de dizer, pois muitos dos artistas que citarei a seguir não são da minha época) do que a música já teve para nos oferecer: The Beatles, The Mamas and The Papas, Led Zeppelin, The Who, Nina Simone, Edith Piaf, Creedence Clearwater Revival, Cazuza, Gonzaguinha, Raul Seixas, Tom Jobim, Tim Maia, Billy Holliday, meu Deus, quanta gente! Se eu não parar agora essa coluna vira um livro. E, no entanto, vejam o que chamam de sucesso hoje: Mc Créu, Britney Spears, Tati quebra-barraco… Chega! Meus ouvidos não agüentam e tenho medo de, como Bethoven, ficar surdo no auge de minha existência. Finda essa elucubração, pergunto-lhes: dá pra pensar em discutir a indústria fonográfica? Especificamente, essa indústria de hoje?

 

 

Foto: http://www.piralaize.blogger.com.br/image-dub1.jpg

 

 

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