Archive for junho \30\+00:00 2008

Por que ela exerce todo esse fascínio no público?

junho 30, 2008

Amy Winehouse

 

Amy Winehouse: um novo ídolo ou uma nova promessa de vida curta no ágil mercado da Billboard?

 

            “Ela é tudo que eu queria ser”, gritam algumas meninas que viajaram mais de 200 km só para assistir a nova musa dos palcos, Amy Winehouse, durante o recente Rock in Rio Lisboa. Nem mesmo o longo atraso, a voz afônica e o desleixo de sua aparência – a sensação que se tinha era a de estar diante de uma recém-internada numa clínica de desintoxicação – foram capazes de abater o público ensandecido que lotava a cidade do rock disposta a cultuá-la. E não foi a primeira vez, muito menos a mais digna de nota por se tratar de um evento de renome internacional. Nada disso! Essa é a rotina mesmo de Amy. Dá pra acreditar?

 

            A menina que espantou o mundo em 2003 com sua voz estonteante durante o lançamento do álbum Frank, recorde de vendas e críticas, deu lugar a um arremedo de criatura capaz das atitudes mais controversas e polêmicas da história musical recente. “Quando começou a tragédia?”, tentam entender os críticos da indústria fonográfica. Terá sido por conta do casamento com o amado da musa, Blake Fieldercivil, numa capela em Lãs Vegas? Ou trata-se apenas de mais um caso de soberba diante da fama como tantos ocorridos no passado, só que agora em cores mais psicodélicas? Ninguém sabe a resposta a nenhuma dessas perguntas. E mais: a esperar uma atitude do público que prestigia a cantora, ninguém quer realmente saber. Simplesmente não importa.

 

            O mundo da música que nos deu Elvis Presley, Os Beatles, Ray Charles, Led Zeppelin, entre tantas outras feras, hoje se rende a essa postura “não tô nem aí com a vida” de artistas como Winehouse. Ela chegou, inclusive, a pregar essa atitude em sua canção Rehab, como se ficar doidona fosse um passaporte de conduta para essa nova geração, marcada exclusivamente pelo fenômeno My Space e pelo programa American Idol que apresenta “artistas” e artistas às toneladas, numa velocidade que nossos próprios olhos não são capazes de dar conta.

 

            Após escrever tudo isso me veio à mente a seguinte reflexão: critica-se imensamente a qualidade e falta de criatividade da atual safra artística, pondo-a como uma das principais culpadas pela crise do mercado fonográfico. No entanto, essa mesma indústria, muitas vezes (não todas, é claro, pois sempre há boas exceções, como a fantástica inglesinha Joss Stone, sucesso recente em show no Vivo Rio), na figura de alguns empresários inescrupulosos cujo único interesse é manter as platéias enlouquecidas, lotando estádios e comprando CD’s e DVD’S, faz vista grossa e, em alguns casos, até apóia esse lado bad boy de determinados artistas que, quando chegam a autodestruição (como parecer querer a rebelde Amy, com suas sucessivas recaídas e crises), são relegados ao ostracismo para que outro(a), também rebelde por natureza, tome o seu lugar rapidamente.

 

            Portanto, não será esse – perdão, essa moça – um mal necessário para uma sociedade imersa em tantas dificuldades, cujo único motivo de prazer seja adorar uma artista que subverta de forma cínica e sedutora os costumes morais? Não precisaremos nós de outras Amy para preencher nossos vazios existenciais e tomar a coragem que nós mesmos não somos capazes de tomar: enfrentar esse mundo insano em que vivemos?

 

            É isso que eu penso sobre essa moça adorável.

 

   

            Foto: http://www.thelastminuteblog.com

 

Na lista negra…

junho 26, 2008

Técnico Dunga

 

O próximo da fila: o velho dilema sobre quem será o novo técnico da seleção brasileira de futebol está de volta às páginas.

 

            Algumas profissões aqui no Brasil conseguem deter o terrível estigma de serem chamadas, à boca miúda nos corredores e conversas de bar, de “padecer no paraíso”. Ser técnico da seleção brasileira de futebol é, com certeza, uma delas. Não bastasse o sufoco de ter de aturar a pressão de dirigentes, empresários que “vendem” seus jogadores a preço de banana, a imprensa sensacionalista que se acha no direito de escalar o time quando bem entende, os patrocinadores com seus vultosos contratos interferindo em calendários e escalações, o cabo de guerra pela transmissão de jogos pela TV (que deve ser passado no horário que eles desejam, para não afetar suas grades de programação), ainda por cima tem de lidar com as vaias e críticas constantes e os chamados de “burro” por parte de uma torcida que conta com mais de cem milhões de torcedores autônomos em todo o território nacional. E, todos eles, crendo-se sabedores do que é melhor para a pátria em termos de futebol.

 

            Mediante todo esse corredor polonês, os maus resultados recentes (perder para Venezuela? Nem pensar! É inadmissível!) e a falta de vocação do treinador, que nunca treinara um clube sequer antes de tamanha honraria oferecida pelo presidente da CBF Ricardo Teixeira, volta-se à baila a velha questão: ninguém agüenta mais o comando da seleção. Precisamos de um novo técnico. Quem decidiu exatamente ou quando isso foi decidido é o que menos importa. Precisamos. E ponto. E agora, José? (personagem do célebre poema de Carlos Drummond de Andrade), a festa acabou? Todos já partiram? Alguém ficou? Quem vai assumir o lugar? Já de antemão eu aviso que não quero a incumbência por saber da dificuldade de exercer tal cargo.

 

            A discussão, logicamente, correrá os tapetões da Federação – inclua-se nesse montante um número expressivo de jornalistas e empresários do ramo que trarão em suas pastas, muito bem organizadas, propostas geniais que se adequem a seus intenções financeiras -, o que gerará debates do tipo “eu quero aquele, mas o outro quer esse, mas fulano não vai com a minha cara, e eu não vou com a de beltrano, e agora, meu Deus? Quem sobrou pra tapar esse buraco? Quem eu ponho pra salvar o meu emprego? Aha!… Eureca! E pronto. Faz-se um notificado importante numa coletiva para todos os jornais e revistas (com destaque, é claro, para os periódicos esportivos, pois assim eles se acham importantes), apresenta-se um meliante – já houve casos, eu me lembro, de eu olhar para o novo técnico como quem olha para um criminoso que acabou de ser pego numa emboscada pela Polícia Federal -, ele beija o escudo da CBF, a camisa canarinho (a azul, não, pois dá azar), as pessoas vibram e a torcida, tola, fica feliz. Está sanado o problema. Que venha o próximo jogo das eliminatórias.

 

            Gostou do processo seletivo? Não? Ué, mas em concurso público não é assim? E concurso de Miss? E aqueles programas de auditório do tipo American Idol que prometem apresentar a nova voz da música nacional? Desculpe… Eu pensei que fosse agradar. Eu fiz tudo direitinho, do jeito que manda o figurino, o Dunga já estava arrumando as malas para ir assumir um clube nos Emirados Árabes Unidos, num arranjo interessante e multimilionário, pelos próximos três anos. Vocês não gostaram mesmo? Droga! Vou ter que começar tudo de novo.

          

 

Quem vence essa queda-de-braço?

junho 21, 2008

MTV logo

 

O Caso MTV: televisão é isso?

 

            Nos últimos dias a discussão televisiva do momento tem sido a decisão da operadora de TV a Cabo Sky interromper as transmissões do canal MTV para a maioria dos estados brasileiros (excetuando-se São Paulo e algumas cidades de Recife e Adjacências). A diretora, mais do irritada, possessa, divulgou em sua programação uma chamada que traz à tona toda a insatisfação do grupo com a decisão atroz da emissora. Tendo como mote o slogan “Sky: televisão é isso? Televisão não é isso” ela mostra através de denúncias graves o quanto a relação entre a diretoria administrativa dos canais – não se limitando somente a MTV – e a operadora nacional é uma relação manipuladora, impondo aos assinantes um regime de escravidão (pois não lhes é dado quase que nenhum direito de escolha sobre o pacote que irá assinar, tendo de aceitar as exigências de um organização que mais parece, na visão deles, uma sucursal da antiga ditadura militar).

 

            Pensando nesse caso de forma mais detalhada e pesando os prós e os contras de todo esse dilema, veio-me a cabeça uma outra importante questão que, ao contrário da briga Sky X MTV, nunca é posta em debate por membros ligados às emissoras e operadoras a cabo: e quanto a qualidade da programação de televisão brasileira na última década? Isso mesmo! A qualidade. Ouço muito falar em TV digital, decodificadores de transmissão, HD isso, HD aquilo, imagem impecável, sem chuviscos, e tome 3G pra cá e portabilidade pra lá, em suma um infindável oásis de oportunidades referentes à tecnologia a ser implementada, mas quanto ao teor da programação não sinto a mesma confiança.

 

            Como pode uma emissora como a MTV (Music Television que há bastante tempo vem enveredando por um caminho distinto da música, deixando de lado seu passado de clipes e shows para dar voz a uma linguagem mais jovem e popular) reclamar da falta de profissionalismo da operadora Sky – e não estou aqui defendendo nenhum dos lados, pois realmente conheço pessoas que se dizem reféns de seus pacotes de programação, sendo obrigadas a engolir canais aos quais elas não têm o menor interesse – se ela própria, ao longo da última década, substituiu profissionais com um largo histórico de conhecimento musical, como os VJs Thunderbird, Zeca Camargo e Gastão, entre tantos, por outros mais jovens e de inferior cultura no ramo, por se adequarem simplesmente a uma faixa de público? É justa a decisão da MTV eleger quem é o seu público-alvo? Somente jovens gostam de músicas, clipes e shows?

 

            Voltando a discussão iniciada no 2º parágrafo: até quando teremos de aturar na nossa televisão programas de baixo calão, com tiradas cômicas (na visão deles, não a minha!) insuportáveis e difamatórias, os chamados reality shows que transformam pessoas sem o menor talento ou vocação em celebridades do dia pra noite e excessivos desrespeitos com o espectador ao programar verdadeiras obras-primas dramatúrgicas em horários impraticáveis para a maioria da população nacional?

 

            O caso MTV é muito mais grave do que uma simples questão de negociação de contrato ou aumento nos valores acordados anteriormente por ambas as partes. Ele trata de um insulto que vem sendo cometido contra a sociedade brasileira a muito tempo, quando as emissoras desistiram das pessoas cultas, que tinham realmente o que dizer e, por isso, estavam defendendo seus ideais na programação televisiva, e optaram pela facilidade de um sorriso rápido ou a sensualidade de um corpo esbelto. Como diria Gabriel, o pensador em seu rap: Até quando? Até quando teremos de aturar esse desrespeito?

 

            Televisão é isso? Respondam-me vocês, os que conhecem a resposta.

       

            Foto: www.lugarus.com

Um desabafo ao cansaço do Mundo

junho 18, 2008

Tomohiro Kato

Estamos também cansados do mundo ou somente de pessoas como ele?: A Banalização da violência contemporânea.

A cada dia que passa me apavoro mais e mais com o caminho que a humanidade vem trilhando. E não somente isso: percebo o quanto a sociedade de bem vem também se inquietando e perdendo parte de sua fé nessa criatura contraditória chamada ser humano. O caso da vez chama-se Tomohiro Kato que, simplesmente por se considerar cansado do mundo em que vive (palavras essas que fez questão de repetir em alto e bom som quando interrogado pelas autoridades policiais), decidiu atacar a facadas transeuntes em plena rua, no bairro de Akihabara, cidade elétrica do Japão, matando sete vítimas e ferindo outras doze.

O crime, que choca pelo alto teor de imbecilidade por parte de seu perpetrador, levanta uma questão muito séria nesse mundo globalizado em que vivemos: que rumo está tomando o ser humano nessa sociedade tão marcada por estrelismos, grifes, gírias da moda e um batalhão de tecnologias multimídia que, se por um lado não transformam nossas vidas num oásis de facilidade, por outro são capazes de nos algemar, fazendo-nos sentir como prisioneiros mesmo quando caminhamos calmamente pelas ruas? Veio-me a mente nesse exato momento a personagem Alice do célebre romance de Lewis Carroll Alice no País das Maravilhas, no exato momento em que ela, perseguindo o coelho branco, cai no buraco que serve de porta de acesso à outra realidade, misto de ficção e realidade perturbadora.

Qual não foi a reação da pobre e ingênua Alice senão de estranhamento e incompreensão diante daquele mundo governado por uma rainha que comandava um imenso séquito de cartas de baralho e personagens alucinantes e suas mentes complicadas (praticamente nada deixando a dever a nossos dependentes químicos contemporâneos, cabendo aqui um maior destaque nessa classe para o escritor, recentemente transformado em celebridade pelo cinema hollywoodiano, Phillip K. Dick, autor das obras-primas de ficção científica Blade Runner e Minority Report)? E qual não foi a minha surpresa, em pleno século XXI, por estar diante de um criminoso tão abrupto e ao mesmo tempo tão infantil como esse simplório japonês, uma pessoa comum, que poderia esbarrar com você em qualquer esquina, café ou supermercado, chacinando pessoas que nada lhe fizeram – muitas delas sequer tendo-o visto anteriormente – de forma tão bárbara e desmedida?

Dirão os pobres de espírito: “mais um crime para entrar para as estatísticas”, enquanto inocentes, indignados, gritarão por justiça, tanto nas ruas de Tóquio e adjacências, como no resto do mundo. “E o final da história?”, perguntarão os mais apaixonados pelos best-sellers, aqueles que acreditam encontrarem nas páginas dos livros um resumo poético da vida que vivem e do mundo em que estão inseridos. O final? Quem souber a resposta, por favor, me diga, pois eu mesmo já não sei mais o que especular e tenho medo, honestamente, de me escandalizar com a resposta…

Foto: news.yahoo.com