Amy Winehouse: um novo ídolo ou uma nova promessa de vida curta no ágil mercado da Billboard?
“Ela é tudo que eu queria ser”, gritam algumas meninas que viajaram mais de 200 km só para assistir a nova musa dos palcos, Amy Winehouse, durante o recente Rock in Rio Lisboa. Nem mesmo o longo atraso, a voz afônica e o desleixo de sua aparência – a sensação que se tinha era a de estar diante de uma recém-internada numa clínica de desintoxicação – foram capazes de abater o público ensandecido que lotava a cidade do rock disposta a cultuá-la. E não foi a primeira vez, muito menos a mais digna de nota por se tratar de um evento de renome internacional. Nada disso! Essa é a rotina mesmo de Amy. Dá pra acreditar?
A menina que espantou o mundo em 2003 com sua voz estonteante durante o lançamento do álbum Frank, recorde de vendas e críticas, deu lugar a um arremedo de criatura capaz das atitudes mais controversas e polêmicas da história musical recente. “Quando começou a tragédia?”, tentam entender os críticos da indústria fonográfica. Terá sido por conta do casamento com o amado da musa, Blake Fieldercivil, numa capela em Lãs Vegas? Ou trata-se apenas de mais um caso de soberba diante da fama como tantos ocorridos no passado, só que agora em cores mais psicodélicas? Ninguém sabe a resposta a nenhuma dessas perguntas. E mais: a esperar uma atitude do público que prestigia a cantora, ninguém quer realmente saber. Simplesmente não importa.
O mundo da música que nos deu Elvis Presley, Os Beatles, Ray Charles, Led Zeppelin, entre tantas outras feras, hoje se rende a essa postura “não tô nem aí com a vida” de artistas como Winehouse. Ela chegou, inclusive, a pregar essa atitude em sua canção Rehab, como se ficar doidona fosse um passaporte de conduta para essa nova geração, marcada exclusivamente pelo fenômeno My Space e pelo programa American Idol que apresenta “artistas” e artistas às toneladas, numa velocidade que nossos próprios olhos não são capazes de dar conta.
Após escrever tudo isso me veio à mente a seguinte reflexão: critica-se imensamente a qualidade e falta de criatividade da atual safra artística, pondo-a como uma das principais culpadas pela crise do mercado fonográfico. No entanto, essa mesma indústria, muitas vezes (não todas, é claro, pois sempre há boas exceções, como a fantástica inglesinha Joss Stone, sucesso recente em show no Vivo Rio), na figura de alguns empresários inescrupulosos cujo único interesse é manter as platéias enlouquecidas, lotando estádios e comprando CD’s e DVD’S, faz vista grossa e, em alguns casos, até apóia esse lado bad boy de determinados artistas que, quando chegam a autodestruição (como parecer querer a rebelde Amy, com suas sucessivas recaídas e crises), são relegados ao ostracismo para que outro(a), também rebelde por natureza, tome o seu lugar rapidamente.
Portanto, não será esse – perdão, essa moça – um mal necessário para uma sociedade imersa em tantas dificuldades, cujo único motivo de prazer seja adorar uma artista que subverta de forma cínica e sedutora os costumes morais? Não precisaremos nós de outras Amy para preencher nossos vazios existenciais e tomar a coragem que nós mesmos não somos capazes de tomar: enfrentar esse mundo insano em que vivemos?
É isso que eu penso sobre essa moça adorável.
Foto: http://www.thelastminuteblog.com